JOLLY ROGER E O DESIGN CONTEMPORÂNEO
Caso você não conheça a Jolly Roger por esse nome, vamos às introduções:
Dentre os diversos ícones que estampavam essas bandeiras (um esqueleto apunhalando um coração; um espectro rodeado de gotas de sangue, exibindo uma ampulheta e um dardo afiado; e diversas variações sobre o tema), eternizou-se o emblemático crânio sobre um par de ossos cruzados.
No auge da pirataria (marítima, um pouco antes do Napster) – entre os séculos XVII e XVIII, Jolly Roger era a alcunha dada às bandeiras pretas que identificavam navios piratas, prestes a abordar um alvo.
Bandeiras navais são itens de sinalização que comunicam muito mais que a origem de uma embarcação. Hastear a Jolly Roger simbolizava uma última oferta de clemência para os alvos de uma trupe corsária: caso não se rendessem uma outra bandeira (geralmente vermelha) era levantada, sinalizando o fim da piedade – tripulantes capturados seriam provavelmente torturados e invariavelmente mortos.
Esqueça o Johnny Depp (ou não esqueça e pule para o próximo parágrafo para não ler sobre uma das torturas mais horríveis já realizadas – não diga que não avisei), existem relatos de que o pirata Daniel Montbars certa vez abriu o abdome de uma vítima, pregou um pedaço de seu intestino ao mastro e bateu com um bastão em brasa em seu traseiro para que o pobre coitado se eviscerasse.
Neste cenário histórico, a Jolly Roger era conhecida, e temida, em todos os cantos do mundo. Representava de forma inequívoca o horror, a crueldade e a barbárie – tal qual uma outra bandeira preta passou a representar mais recentemente.
Toda representação visual está sujeita ao contexto no qual se insere. Todo logo faz parte de um diálogo.
Agora, se foram necessários alguns séculos para que a Jolly Roger se diluísse – de ícone da crueldade a inocente adereço, em nosso mundo pós-moderno essa contextualização é mais volátil do que nunca.
Não basta incluir valores a uma identidade visual unilateralmente. É imprescindível que haja suporte estratégico aos conceitos visuais. Esta é a única forma de garantir que o contexto no qual o público percebe sua marca será favorável e receptivo ao que você quer comunicar.
E neste universo volátil, pontuado por soluções gráficas fast-food(wedologos, fiverr, etc), o Design também se recontextualiza: Pregnância e outras qualidades visuais sempre serão um diferencial competitivo intrínseco (a própria prevalência do ícone da caveira e dos ossos – cuja origem é muito anterior aos piratas e que até hoje é usado internacionalmente para simbolizar “veneno” – é prova concreta disso). No entanto, o crescimento e a valorização das áreas de Design Thinking, Design de Serviço e Design de Experiência são reflexos da necessidade de aprofundar o contexto, a aplicabilidade e a coordenação estratégica de decisões estéticas e criativas.
Essas são as bandeiras que todo escritório, estúdio e frila terá que hastear e honrar.
Sob pena de tornar-se, cruel e barbaramente, irrelevante.